Há mais de um ano atuando na linha de frente contra a Covid-19, os profissionais de saúde brasileiros sofrem os efeitos de enfrentar, diariamente, os hospitais lotados, o luto e a insegurança com a própria saúde e dos familiares. Uma pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em todo o território nacional, intitulada Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19, demonstrou que a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores. Quase 50% admitiram excesso de trabalho, com jornadas para além das 40 horas semanais, e um elevado percentual (45%) declarou que precisa de mais de um emprego para sobreviver.
É o caso da categoria dos fisioterapeutas e, como ressalta o presidente do Sindicato dos Fisioterapeutas do Rio de Janeiro (SINFITO-RJ), Rafael Floriano, a baixa remuneração e a necessidade de gerar mais receita para honrar os compromissos, assim como a atuação em ambientes insalubres como Centros de Tratamento Intensivos (CTI ‘S), favorece o acometimento da saúde mental destes trabalhadores. “As empresas, no caso os hospitais, não podem cobrar mais horas que a lei preconiza, mas certamente o trabalho no tratamento da Covid-19 é muito cansativo. Tem ocorrido diversos afastamentos pela psiquiatria”, salienta Rafael. O presidente do sindicato também conta que queixas de cansaço físico e emocional têm sido recorrentes entre a categoria.
Atuando em São Paulo, a fisioterapeuta Izabela Cozza relata que diante de tantos óbitos provocados pela doença, assim como a falta de perspectiva em relação ao fim da pandemia, sofreu com insônia, ansiedade e o medo de pegar a doença ou perder entes queridos. “Diante de uma crise sanitária tão abrangente e devastadora é muito difícil não sentir-se impactado com a situação”.
A profissional comenta que presenciar tantas mortes no hospital agrava o sentimento de distância dos parentes e amigos, assim como as perdas dentro da própria família, são fatores que contribuem e influenciam na saúde mental de alguém que atua na linha de frente. Embora esteja otimista com relação ao avanço da vacinação, Izabela ainda teme as “novas ondas”, com cepas diferentes da doença. “No momento, o principal desafio é vacinar a população o mais breve possível, assim os casos podem diminuir sensivelmente, evitando novos colapsos no sistema de saúde”, explica.
Izabela retomou acompanhamento psicoterapêutico recentemente. A empresa de saúde em que trabalha ofereceu aos colaboradores apoio psicológico desde o início do recrutamento para a linha de frente. Para Rafael Floriano, esse é um exemplo raro: “Algumas empresas têm um acompanhamento muito interessante com a saúde mental do trabalhador, mas são poucas em relação ao número das que existem”. O presidente do SINFITO-RJ finaliza reiterando a importância de conscientizar profissionais e empresas sobre a importância dos cuidados com o emocional destes trabalhadores, inclusive incentivando conversas regulares entre os funcionários e psicólogas e psicólogos.