Depois de três anos sem reajuste salarial, os rodoviários do Rio de Janeiro fecharam acordo de 10%, em duas vezes – 5% em junho e outros 5% em novembro, correspondendo aos anos de 2020/2021 e 2021/2022. As negociações, segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro, Sebastião José da Silva, foram tensas, o resultado ficou aquém do proposto e a categoria não tem muito a comemorar. Acompanhando juridicamente o Sindicato há dez anos, o escritório MS&P diz que os valores de ajustamento dos anos de 2022/2023 serão discutidos em novembro próximo.
“Vamos contestar o reajuste relativo às perdas dos anos 2022/2023 e também a defasagem que ainda resta dos anos 2020/2021”, explica a advogada Lara Luedemann, acrescentando que é fundamental a manutenção dos direitos já previstos na convenção coletiva. Lara alerta ainda que além da batalha judicial pela manutenção dos direitos já garantidos pelos rodoviários, o Sindicato trava duros processos litigiosos para afiançar os direitos já cerceados pelo patronato. É o caso, por exemplo, dos processos coletivos que visam a função de cobrador, já extinta à força pelo empresariado. Em outras ações coletivas, há também a busca pela garantia de um direito básico e urgente: o direito à higiene e saúde do trabalhador. “O Sindicato pleiteia banheiros dignos e em condições de higiene para a categoria”, ressalta a advogada.
“O acordo salarial não resolve nossos graves problemas”, avisa o presidente do Sindicato dos Rodoviários, que representa todos os trabalhadores de diferentes setores de transporte de passageiros, como de cargas, diferenciados, de escolares, entre outros. São atualmente 75 mil trabalhadores vinculados ao Sindicato. “Temos agora de afinar nossas propostas para novembro e conquistar direitos”, esclarece.
Nas negociações com a classe patronal, os trabalhadores brasileiros não têm obtido a reposição integral da inflação. E aí está, segundo Sebastião, o maior entrave da categoria, pois o trabalhador vem perdendo poder aquisitivo. “Conseguimos manter as cláusulas sociais e em alguns segmentos ocorreu redução de salário da categoria”, afirma.
“Entendo que quando não se consegue na negociação coletiva repassar nem a inflação para os trabalhadores, estamos falando em redução de salário”, alerta o presidente. Sebastião explica que mesmo aplicando a inflação nas negociações coletivas, o trabalhador já tem defasagem. “Parte significativa do salário vai para os alimentos, que têm aumentado acima da média da inflação”, argumenta.
AÇÃO SOCIAL NO DIA DO RODOVIÁRIO – O quadro econômico e político do país não auxilia em nada a categoria e seus familiares. “Temos muitos trabalhadores desempregados e em dificuldades”, comenta Sebastião, acrescentando que depois de três anos sem evento vão comemorar o Dia de São Cristóvão, 25 de julho, no dia 30. Serão realizadas ações sociais, entre elas orientações jurídicas, tirar documentos, documentos de casamentos, distribuir cestas básicas, corte de cabelos, sorteio de prêmios e muitas atividades de lazer para todas as idades, no Centro Social Esportivo dos Rodoviários, na Estrada do Otaviano, 404, Rocha Miranda (RJ), das 9h às 15h.
Maioria dos setores do transporte não se recuperou dos estragos da pandemia
Muitos dos problemas atuais dos Rodoviários foram causados pela pandemia. Como é um serviço essencial, a categoria atuou desde 2020, mesmo com a frota reduzida. O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro, Sebastião José da Silva, explica que o Sindicato teve de fazer termos aditivos com o Sindicato Patronal para reduzir a quantidade de ônibus na rua e colocar uma parte dos trabalhadores no programa de governo, com o auxílio do FAT (auxílio desemprego). “Uma parte significativa desses trabalhadores, mais de 7 mil, acabou sendo demitida durante a pandemia”, relata.
O Sindicato representa muitos setores do transporte do Rio de Janeiro. Abaixo como cada um foi atingido durante a pandemia.
No Transporte Urbano de Passageiros, mesmo com o esforço para manter empregos, 7.100 rodoviários perderam seu posto de trabalho no Rio de Janeiro durante a pandemia. Dados do Sindicato indicam uma lenta recuperação nos postos de trabalho nos últimos meses. De novembro de 2021 até maio de 202 foram abertos 1.030 postos de trabalho, uma média, segundo o Sindicato, de 200 a 280 por mês.
O setor mais atingido foi o Transporte Escolar, que parou 100%, e recém agora está se recompondo. Os trabalhadores têm dificuldade de retomar as atividades. “Não temos ainda nem 40% do que tínhamos antes da pandemia”, ressalta o presidente.
Outro setor afetado foi o de Transporte Intermunicipal e Interestadual – Rio/São Paulo, Rio/Belo Horizonte entre outros locais, com as empresas com sede na cidade. Muitas linhas foram suspensas, outras ficaram reduzidas. Neste período da pandemia foram mais de 3 mil demissões, mas esse setor, segundo o presidente do Sindicato, já retomou, e tem quase 90% do que era antes de 2020. “Foi o setor que retomou com mais rapidez”, avisa Sebastião. Um dos indicativos desta recuperação é o momento desastroso da economia, principalmente pelos preços elevados das passagens aéreas. “Pessoas que estavam habituadas a viajar de avião, começaram a viajar de ônibus, por isso que essa demanda teve uma recomposição rápida”, avalia Sebastião, acrescentando que num cenário futuro este setor deve crescer, caso continue as passagens aéreas com preços absurdos.
Pouco afetado, o setor de Transporte de Carga operou quase toda a pandemia com 100%. Algumas empresas, segundo Sebastião, tiveram até benefícios, pois teve mais fluidez no trânsito, redução drástica nas estradas e cidades. “O transporte de carga de longa distância foi pouco atingido, principalmente porque as exportações e importações continuaram no mesmo patamar de antes da pandemia. O problema, diz o presidente, é neste momento, com o aumento do preço do combustível.