Eleito para o triênio 2022/2025, o novo presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), jornalista e advogado Octávio Costa, tem meio século de experiência nos principais meios de comunicação do Brasil, entre eles, Globo, Editora Abril – Veja, Exame , Jornal do Brasil (Economia e Política) e Revista IstoÉ. O jornalista ganhou dois prêmios ESSO e menção honrosa no prêmio Vladimir Herzog. Foi também diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e vice-presidente da FENAJ . Filiado desde 1974 na ABI, sempre esteve ligado à defesa da democracia.
Em meio a muitos compromissos, Octávio concedeu, no final de agosto, entrevista à jornalista Duda Hamilton para falar sobre as eleições de 2022, o papel da ABI na disputa e o histórico da associação na luta a favor da democracia. Ele recorda o pedido de impeachment de Fernando Collor de Melo feito pela ABI e OAB.
Qual o papel da ABI na defesa da democracia?
Octávio Costa, presidente da ABI – Ao longo dos seus 114 anos, a ABI sempre esteve do lado da democracia e sempre lutou pela democracia no Brasil. Esteve à frente de movimentos nacionais como Diretas Já, contra a Ditadura Militar, entre outros. Não podemos esquecer que a Associação, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apresentou à Câmara dos Deputados, o pedido de impeachment do presidente Collor, no dia 1 de setembro de 1992, em meio a uma onda de manifestações por todo o país.
Mais recentemente estivemos presente no histórico 11 de agosto último, nos atos em defesa da Democracia e do Estado de Direito, nas Arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo; no Pilotis da PUC-Rio; na Faculdade de Direito da UnB, em Brasília; e em Fortaleza, onde foi lida a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito.
Continuaremos na luta sempre, pelo estado de direito, pela soberania, pela defesa da democracia, pela liberdade de imprensa, sem esquecer o papel histórico da ABI na luta a favor da democracia.
Qual a maior preocupação da ABI em relação às eleições de 2022?
O. C. – Nossa maior preocupação é com um golpe contra a democracia, um golpe que afete a democracia. Estamos preocupados também com o incitamento à violência, com o desrespeito do presidente da República em relação aos jornalistas e, acima de tudo, com a segurança dos profissionais de imprensa nas eleições de outubro.
Abaixo qualquer tentativa de golpe, abaixo qualquer ameaça ao processo eleitoral no nosso país. O presidente prega o ódio, a violência e ameaça os colegas jornalistas, inclusive de forma econômica.
Em nossa defesa, criamos, no dia 2 de setembro, o Observatório LID (Liberdade de Imprensa Democracia), que funciona como uma central de referência para receber denúncias de cerceamento de atuação profissional durante o processo eleitoral.
No site da ABI está disponibilizada uma plataforma para recebimento de denúncias, que podem ser enviadas pelo e-mail abi.observatorio@gmail.com ou pelo formulário eletrônico. Neste formulário consta a opção para que o denunciante sinalize se quer atendimento ou assessoramento jurídico fornecido pela ABI e por seus parceiros IAB, Instituto Herzog e OAB.
Além disso, estamos cobrando das empresas de comunicação um esquema de segurança para seus empregados. Elas também têm de apresentar esquemas de segurança, pois a segurança do jornalista afeta a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Nós jornalistas não temos muita ação preventiva, temos é que fazer o nosso trabalho.
E como será a cobertura das eleições?
O. C. – Nossa maior preocupação é com o profissional de jornalismo cumprindo seu papel nas eleições de 2022. O presidente prega a violência contra o jornalismo, inclusive atacando mulheres, como assistimos no debate da BAND/tV Cultura. Uma outra atitude que tomamos é em relação a cobertura das eleições de 2022. Em audiência com o relator de Liberdade de Expressão da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), Pedro Vaca, ficou acertado que a OEA vai acompanhar a cobertura, pois a preocupação é que o quadro de violência contra jornalistas se intensifique. Todos os casos de ocorrência serão encaminhados à organização.
“A ABI é apartidária, mas nesta eleição não vai ficar imparcial. Estamos do lado da democracia e nesta eleição Lula a representa”.
Nas suas entrevistas você tem dito que a ABI até agora foi apartidária, mas nesta eleição de 2022 não vai ficar imparcial? Por quê?
O. C. – Alguns criticaram a decisão e me cobraram imparcialidade. Aqui não se trata de ter preferência pelo partido A ou B. Também não fomos imparciais, por exemplo, quando pedimos, junto com a OAB, o impeachment do Collor. Num momento como este que estamos vivendo, quando se tem de um lado a barbárie e de outro a democracia não podemos ficar em cima do muro. Sim, estamos do lado da democracia, e é o Lula o representante da democracia.
Não é hora de imparcialidade. Lamento muito que a atual direção do Conselho Federal da OAB não tenha assinado a Carta aos Brasileiros ou outros manifestos. A ABI não vai incorrer no mesmo erro clamoroso da OAB Federal. A ABI está empenhada sim e dá todo apoio à campanha do ex-presidente Lula. Estou em conversas com o Rui Falcão, coordenador da campanha do ex-presidente, para o Lula participar na ABI de uma entrevista coletiva no auditório da Associação.
Qual vai ser o posicionamento da ABI depois das eleições? O que será motivo de luta para a associação? Como recuperar direitos dos jornalistas?
O. C.– Vamos defender a volta da obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão, a unidade do campo progressista e a Lei de Meios – saiba mais aqui http://www.abi.org.br/institucional/legislacao/lei-da-imprensa/
Estaremos sempre do lado da democracia e lutando pela soberania e pela defesa da liberdade de imprensa.