Formado em Engenharia Elétrica, em 1974, pela Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, Olímpio Alves dos Santos, 73 anos, possui mestrado pela Coppe/UFRJ em Redes Neurais (inteligência artificial) e foi reeleito, no dia 6 de maio, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (SENGE-RJ). Aposentado, o engenheiro trabalhou na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e na empresa de energia elétrica do Rio de Janeiro, hoje ENEL. Olímpio dos Santos assumiu mais um mandato (2022-2025), somando dez anos na presidência do SENGE-RJ.
“Lutamos para proteger e ampliar os direitos dos engenheiros”, avisa.
Durante a entrevista virtual com a jornalista Duda Hamilton, Olímpio dos Santos contou sobre seus planos à frente da nova diretoria do SENGE-RJ, com a renovação dos quadros. Alertou que é preciso reconstruir o Brasil, retomando o processo de crescimento do país e sua soberania, e abordou o assessoramento jurídico do sindicato por escritórios como o Machado Silva & Palmisciano, que desde 2007 acompanha a categoria.
“Temos muito trabalho na área jurídica e vários desafios pela frente, pois temos entre 8 mil a 10 mil engenheiros associados”.
Historicamente, o SENGE-RJ tem sido muito importante para as discussões políticas de esquerda do país. Sua sede era um importante pólo de discussões para as organizações de classe, como sindicatos e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, reunindo inúmeras lideranças sindicais. Hoje, ressalta Olímpio Santos, seu mandato
não abre mão da defesa de um governo progressista. A Lava Jato e a recessão dos últimos anos quase acabaram com a engenharia e com o país e, segundo ele, temos um longo processo de construção do Brasil. Cabe a nós reconstruir e lutar pela soberania do Brasil.
Quando você entrou na vida sindical?
Olímpio Alves dos Santos – Durante a faculdade fui um militante político estudantil, sem estar ligado a partido político. Em 1979, na fundação do PT, participei de reuniões e, naturalmente, depois entrei para a CUT. Fui durante muitos anos dirigente do SENGE, depois presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e há 10 anos estou como presidente do SENGE-RJ.
Quantos engenheiros estão associados ao SENGE-RJ?
O.A.S – Temos hoje entre 8 mil e 10 mil filiados de diferentes profissões, entre eles engenheiros elétricos, mecânicos, civis, ambiental, agrônomo, de produção, além de geólogos, geógrafos e físicos.
Na sua opinião qual a principal função hoje do Sindicato?
O.A.S – A defesa dos engenheiros e da engenharia, sem dúvida, já que lutamos pelo cumprimento do salário mínimo profissional dos engenheiros e pelo respeito amplo aos direitos dos trabalhadores. Mas existem muitas outras funções importantes. Oferecemos, por exemplo, apoio Jurídico sólido aos nossos engenheiros e participamos de várias ações, como em diferentes fóruns e conselhos da sociedade civil, que dizem respeito à engenharia na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Outra ação política que oferecemos é o programa Soberania em Debate, com entrevistas semanais realizadas pelo Movimento SOS Brasil Soberano, iniciativa do Senge RJ para estimular a produção de subsídios para um projeto de Brasil socialmente mais justo e soberano. É transmitido ao vivo pelo canal do YouTube do SOS Brasil Soberano e pela Rede TVT.
A diretoria deste mandato conta com novos quadros?
O.A.S – Sim,nos últimos dez anos procuramos mesclar pessoas mais velhas, históricas, com mais jovens. Nos últimos dois mandatos renovamos muitos diretores e pretendemos, sem açodamento, fazer com que as pessoas venham a assumir
os mesmos compromissos com a engenharia, os engenheiros e o país que defendemos.
Nossa diretoria acredita que não ficará mais um mandato, mas trabalha com a certeza de deixar sua linha progressista e à esquerda do espectro político como pilar para as próximas diretorias.
Nós, por exemplo, não abrimos mão da defesa de um governo progressista, que apoie as demandas dos trabalhadores, gere desenvolvimento com empregos de qualidade e melhores as condições de vida da população. Fomos os primeiros a bradar que não íamos embarcar no golpe de Estado que se armava com a Lava Jato.
Qual o maior problema enfrentado hoje pela classe dos engenheiros do RJ?
O.A.S – É a destruição causada pela mentira que foi a Lava Jato. Nós tínhamos no Rio de Janeiro, uma forte presença da indústria naval, ela foi completamente destruída. Temos também a sede de várias empresas estatais importantes: Petrobras, Eletrobras, CEDAE, Furnas, que estão sendo esvaziadas há alguns anos pelo projeto de privatização.
Outro problema é o desaparecimento de várias empresas de Engenharia da construção pesada e da engenharia construtiva. Isso foi destruído, em parte, pela Lava Jato e pelo processo recessivo que é o governo Bolsonaro e também os dois anos do governo Temer. Vivemos um grave processo recessivo que deixou a engenharia quase no chão.
Quais os principais desafios da sua gestão?
O.A.S – Nós temos as questões corporativas, mas entendemos que não podemos ficar apenas na defesa dos engenheiros. Temos um longo processo de construção neste país, no mais amplo sentido da infraestrutura do país – a logística, a mobilidade das cidades, pensar na construção das cidades – moradia, pavimentação, ciclovias. Não podemos esquecer que engenharia é construir o bem-estar das pessoas, e seu desafio é criar demanda e mais e melhores empregos.
Vale abordar também que o sindicalismo brasileiro foi destruído pela Reforma Trabalhista e tornou as pessoas não-empregadas. A exploração é explícita, já que o trabalho não tem mais nenhuma proteção. Temos como desafios reverter a situação, apoiar e lutar por uma outra reforma trabalhista, colocando o trabalho na sua centralidade. Isso implica algumas mudanças, como por exemplo, que os sindicatos tenham uma outra forma de organização e financiamento. Precisamos ter propostas claras e transparentes para isso.
Quais os serviços oferecidos hoje pelo Sindicato?
O.A.S – Os principais são Assessoria Jurídica, Capacitação profissional e tabela de honorários. Hoje, contamos com quatro escritórios trabalhando com o Sindicato. Nós oferecemos cursos de capacitação para a categoria com o intuito de recolocar as pessoas no mercado de trabalho. O curso de autovistoria predial, é um bom exemplo, bem como cursos na área de energia fotovoltaica. São muitas as tentativas da nossa diretoria para reciclar os engenheiros com ferramentas mais modernas. Temos também um núcleo SENGE Estudante e um Coletivo de Engenharia Popular, voltado ao apoio aos movimentos sociais.
“O MSP faz um excelente trabalho jurídico para o Senge RJ. Já ganhamos muitas ações e vamos ganhar muitas outras”, Olímpio Alves dos Santos.
Alguma boa disputa judicial pela frente? Qual?
O.A.S – Temos muito trabalho na área jurídica, várias disputas e ações em curso. Cito duas: a ação que estamos finalizando com os engenheiros da Rede Ferroviária e uma outra em vias de ser concluída, com Furnas.
A pandemia trouxe alguma mudança no comportamento da categoria? Por quê?
O.A.S – Na Engenharia, a pandemia agravou ainda mais a recessão, não fortaleceu o emprego. Mas posso apontar um ganho: Antes tínhamos dificuldades de fazer assembleias, de levar as pessoas para a discussão, eram entre 30 e 50 pessoas em cada reunião. O modo remoto aumentou a participação e chegamos a ter mais de 200 participantes em assembléias online. Ou seja, aumentou a participação da categoria, que propõe, participa, traz novas ideias e reclama, muito mais do que antes de 2020.