De Norte a Sul do país, a pandemia provocou nos escritórios de advocacia, de médio e grande portes, mudanças radicais na forma de desenvolver seu trabalho, algumas bem positivas e outras nem tanto. Em razão das circunstâncias, muitas adaptações foram impostas, novas tecnologias utilizadas e alguns desafios para deixar a equipe unida, mesmo sem a presença física. Alguns escritórios já pensam em mesclar a forma atual com as atividades antigas, mas todos são unânimes em dizer que “nada será como antes”. A vida profissional pós-pandemia exige ajustes e criatividade, com o desafio de manter o trabalho humanizado.
Para Gisa Machado Silva, sócia majoritária do MS&P (Rio de Janeiro/RJ), embora as mudanças sejam necessárias, é muito importante prezar para que o contato pessoal com os clientes e com a própria equipe não seja prejudicado. “Se ocorrer um afastamento, certamente seremos menos presentes e sensíveis às necessidades de todos. Humanos são seres que vivem da troca de olhar, do toque e da voz”, ressalta a advogada.
“A pandemia nos revelou um leque de novas possibilidades na forma de trabalhar, que não imaginávamos serem viáveis”, alerta Raquel Paese, sócia do Paese, Ferreira & Advogados Associados (Porto Alegre/RS). “Pode-se trabalhar de forma mais racional, mais flexível, garantindo que todos possam compatibilizar melhor a vida familiar com o trabalho, sem prejuízo da qualidade do resultado”, acredita a advogada.
Ela conta que o escritório vive neste momento uma fase de experimentações, incorporando algumas possibilidades experimentadas na pandemia que funcionaram bem. “Outros elementos serão preservados, porque são essenciais na nossa realidade e concepção de trabalho”, complementa.
Nilo Beiro, sócio fundador do LBS Sociedade de Advogados (Campinas/SP), afirma que a principal lição destes mais de 18 meses é que o trabalho on-line é viável e complementar ao trabalho presencial. “Estamos nos adaptando e tomamos importantes decisões, como mudar de uma casa grande para um prédio comercial em Brasília, diminuir a metragem do prédio de Campinas e fechar a unidade física de Goiânia, apesar do escritório permanecer na cidade”, conta Beiro.
FLEXIBILIDADE DE ATUAÇÃO
O escritório LBS adaptou toda a estrutura de TI, com a implantação de softwares de colaboração e automatizando tarefas antes realizadas manualmente. Outras modificações foram realizadas no ambiente de trabalho, como o fim das salas individuais e dos locais fixos. “Não teremos mais mesas próprias e/ou lugares marcados, e todos os advogados e membros da área técnica passaram a ter um laptop à disposição, tanto para o trabalho em casa quanto no escritório, permitindo grande flexibilidade de atuação”.
O advogado José Guilherme Carvalho Zagallo, do escritório Macieira, Nunes, Zagallo e Advogados Associados (São Luís/ MA), defende que algumas atividades devem mudar de forma permanente. “As reuniões curtas com pessoas de localidades diferentes tendem a ser realizadas virtualmente, assim como atividades de caráter mais repetitivo, que podem ser feitas de forma remota ou híbrida”.
Vitor Terra, advogado do MS&P, acredita que as facilidades, como a realização de algumas audiências e sustentações virtuais, vão continuar. “O atendimento de clientes com dificuldade de acesso ou interação com tais meios eletrônicos deverá ser retomado com segurança”, defende.
Num quesito estes quatro escritórios estão afinados: retomar as demandas coletivas em assembleias sindicais, por causa das dificuldades de realização virtual das mesmas e até impossibilidade em alguns casos.