Baseado em fatos reais, Argentina 1985, do diretor Santiago Mitre, é um daqueles filmes que nos leva a refletir porque o Brasil não seguiu o mesmo caminho, julgando militares que estiveram à frente da ditadura de 1964 a 1985. O filme é inspirado na história do experiente promotor Julio Strassera (Ricardo Darín), do novato Luís Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e da sua jovem equipe jurídica que processou militares da ditadura, o conhecido “Julgamento das Juntas”.
Strassera, depois de muitas ameaças feitas pela direita e muita tensão familiar, acusa os nove militares por crimes contra a humanidade. Sua denúncia nos faz questionar e pensar sobre a sociedade. A frase memorável “Nunca Mais”, proferida por Darín no julgamento, mostra a realidade que ele entrega a seus personagens.
Esse foi o primeiro julgamento no mundo de um tribunal civil contra comandantes militares que tinham estado no poder. Foram 530 horas de audiência e 850 testemunhas, muitas retratadas no filme com uma fotografia estupenda, muita emoção e um realismo de não segurar as lágrimas, como quando contam a história de Adriana Calvo de Laborde, interpretada por Laura Paredes. Laborde foi sequestrada, torturada e deu à luz a sua filha ainda sob o controle dos militares. Sua voz retumba e faz o telespectador refletir sobre as muitas famílias que perderam filhos, maridos, netos e mulheres durante a ditadura Argentina e de muitos outros países.
Apesar de ser na Argentina, a história consegue ultrapassar fronteiras e ser vivenciada ou relembrada por todos que já passaram por ditaduras. Talvez por isso o filme venha recebendo boas críticas e sendo indicado e vitorioso em muitos festivais de cinema internacionais, estando entre os melhores de 2022 e indicado para o Oscar de melhor filme internacional.