No dia da mulher, há muito para refletir. Um dos focos é a relação da mulher com a vida laboral, que vai impactar sua independência, qualidade de vida e segurança. Em 40 anos, a População Economicamente Ativa – PEA – feminina passou de 28 milhões para 41,7 milhões. Entretanto, esse crescimento ainda é permeado por diversos desafios, como salários mais baixos em comparação aos dos homens, mesmo exercendo as mesmas funções. Esse dado foi destaque do último estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Em média, mesmo ocupando os mesmos cargos e sendo mais escolarizadas, as mulheres recebem 20,5% menos que homens no Brasil. São em torno de 72 dias de trabalho não remunerado por ano.
Além de receberem menos que os homens nos mesmos cargos, mesma atividade laboral, as mulheres ainda enfrentam a sobrecarga do trabalho não remunerado. Na mesma pesquisa, o IBGE identificou que os homens dedicam, em média, apenas 11 horas por semana em tarefas relacionadas ao cuidado de pessoas (filhos ou idosos) e afazeres domésticos, enquanto a população feminina dedica 21,4 horas, quase o dobro. De maneira geral, as mulheres têm se submetido a uma dupla ou tripla jornada de trabalho (casa, filhos e emprego formal) para garantir sua presença no espaço público sem abandonar o mundo privado. O resultado é a exaustão, que coloca em risco a qualidade de vida e a saúde – física e mental – delas.
Outro dado sintomático diz respeito à criação dos filhos, um trabalho comumente atribuído às mulheres. Ao mesmo tempo em que a necessidade de cuidar de uma criança as afasta de atividades remuneradas, esse fato tem pouco ou nenhum impacto na carreira dos homens.
A sobrecarga de responsabilidade sobre o trabalho não remunerado, historicamente considerado feminino, é atenuada (embora ainda existente), entre as mais ricas. Em comparação com os 20% da população com menores rendimentos, as mulheres da população com os 20% maiores rendimentos dedicam, em média, 6 horas a menos ao cuidado de pessoas e/ou afazeres domésticos. Entretanto, o que ocorre de fato é que isso se dá por conta da possibilidade de contratação de serviço de creches e de trabalho doméstico. Ou seja, as atividades recaem sobre outras mulheres, as mais pobres, de forma precarizada por conta das longas jornadas, baixo índice de posse de carteira de trabalho e baixos rendimentos.
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, RENDA E VIOLÊNCIA
A última edição do estudo “”Visível e Invisível – a Vitimização de Mulheres no Brasil” – do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Datafolha (divulgado em 2 de março), apurou que uma a cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirmam já ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses. Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano.
A pesquisa demonstrou que o gritante aumento de violência contra a mulher durante a pandemia tem, infelizmente, se mantido. Como uma das causas desse fenômeno é apontada a diminuição da renda: 61,8% das mulheres que sofreram violência no último ano afirmaram que a renda familiar diminuiu neste período. Parte das entrevistadas destacaram que a perda de emprego e renda, assim como a impossibilidade de trabalhar para garantir o próprio sustento, são os fatores que mais pesaram para a ocorrência de violência que vivenciaram. Economicamente dependentes do parceiro violento, não podiam denunciar e ficavam dependentes dos agressores.
O relatório pode ser acessado na íntegra neste link: VisíVel e inVisíVel:
MS&P RECOMENDA
Entrevista com a historiadora Silvia Federici
MS&P RECOMENDA
Entrevista com a historiadora Silvia Federici
Silvia Federici é uma historiadora marxista que dedica suas obras ao estudo de como a divisão sexual de trabalho interfere na vida das mulheres. Assista, abaixo, uma entrevista concedida por Federici à socióloga Sabrina Fernandes sobre a sobrecarga de trabalho das mulheres:
SILVIA FEDERICI | Eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado