De forma ampla, a educação está sendo impactada pelas mudanças na maneira de ensinar e aprender durante este mais de um ano de pandemia. Professores, alunos e gestores não estavam preparados para essa brusca mudança do ensino presencial para o remoto, o que tem gerado desgaste mental em grande parte desses profissionais. Entraram para o dia a dia dos professores aulas “online”, participação em “lives” e tarefas envolvendo muitas planilhas, além de atividades de controle de presença dos estudantes.
Pesquisa realizada em agosto do ano passado pela Nova Escola #novaescola mostra que 72% dos educadores tiveram a saúde mental afetada. Entre os problemas mais comuns estão a ansiedade, o estresse, o cansaço, a frustração e a sobrecarga de trabalho. Para o psicanalista Christian Dunker, foi necessária uma “reinvenção do modo de transmitir o saber”, e não uma mera adaptação, como se tem propagado.
A queixa mais ouvida por Felipe Siqueira de Souza da Rosa, vice-presidente da AdUFRJ (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro), é o tempo imenso que os colegas ficam no computador. “O trabalho na frente das telas é cansativo, é solitário, as aulas são esgotantes e poucos alunos ligam suas telas. Falta interação com os alunos”, relata.
O que tem mais acometido os docentes, segundo Souza da Rosa, é a estafa mental e a ansiedade, provocadas pela atual situação do país – quantidade de casos e mortes por Covid-19, a falta de vacinas e de perspectivas. Mas outros pontos vêm sendo notados no perfil dos profissionais, como a falta de reconhecimento, a necessidade de aprender rápido novas metodologias de ensino e a gestão do tempo, pois os professores têm de conciliar suas atividades profissionais e domésticas.
No Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, terceiro mais antigo dentre os colégios em atividade no Brasil, os profissionais de educação também enfrentam problemas. Luiz Sérgio Ribeiro, do Sindscope (Sindicato dos Professores e Servidores do Colégio Pedro II), conta que as principais queixas dos docentes e técnicos administrativos são as condições materiais para o trabalho, o excesso de carga horária e o assédio moral. Segundo o professor, os problemas de pressão arterial e enxaquecas se multiplicaram nos últimos meses.
Para amenizar o problema na tradicional instituição de ensino, o Sindscope tem pautado reuniões e assembleias para apresentar propostas coletivas e tentar solucionar as questões. “Criamos um grupo de acolhimento de casos de assédio, mas é preciso muito mais”, relata Luiz Sérgio. Já a AdUFRJ produz, semanalmente, o “Tamojunto” na plataforma “zoom”, que são rodas de conversas de temas que interessam os profissionais. “Ajuda a manter uma congregação de professores. É um encontro virtual com colegas para debater assuntos urgentes”, explica Felipe Siqueira de Souza da Rosa.