No final do primeiro semestre, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), analisou dados de 90 países e concluiu que os trabalhadores essenciais, que representam 52% de toda a força de trabalho, precisam ser mais valorizados. A categoria, apesar de sua enorme contribuição social, sofre com falta de pagamento e esquemas de proteção. Dados como esse estão no relatório Perspectivas Sociais e de Emprego no mundo em 2023: O valor do trabalho essencial.
A publicação destaca como profissionais de serviços básicos são importantes para a resiliência econômica e social em situações de crise. Esses profissionais atuam em áreas como segurança, saúde, varejo, transporte, limpeza e manutenção técnica. Segundo a OIT, a Covid-19 evidenciou o papel fundamental desse grupo, mas também revelou sua defasagem salarial e maior exposição a riscos. Dos países estudados, Moçambique tem o maior percentual dessa categoria dentre seu conjunto de trabalhadores, 87%.
O relatório apresenta ainda dois dados alarmantes. O primeiro é o fato de que os trabalhadores essenciais tiveram uma taxa de mortalidade mais alta que outras categorias durante a pandemia. Nos países analisados, os profissionais de transporte foram os mais impactados, seguidos pelos da saúde. No Brasil, o aumento de mortes gerado pela Covid-19 afetou mais os agentes funerários, seguidos por carteiros, profissionais de saúde, motoristas e policiais.
Outra constatação do documento é que 29% dos trabalhadores essenciais são mal pagos. No setor de alimentação a situação é ainda mais grave, com 47% dos profissionais recebendo salários abaixo da média. De acordo com a análise, Angola é o quinto país com a maior parcela de trabalhadores essenciais mal pagos, com 43%. Por sua vez, Portugal tem a menor taxa de salários defasados, apenas 5%, e também a menor discrepância salarial entre os gêneros no setor alimentar.
Ana Luisa De Souza Correia De Melo Palmisciano, advogada sócia do MS&P e especialista em direito do trabalho, alerta que a precarização das relações laborais são um fator determinante para o aumento da desigualdade social. Ainda, reitera que não basta criação de empregos se estes forem instáveis e com baixa remuneração, mas que é importante que os trabalhadores tenham acesso a trabalhos decentes para viver com dignidade.